22 de dezembro de 2010

como mote ou como mar


"Homem sentado com espada e flor", Pablo Picasso

enquanto engendro versos
o coração não se compraz
e o tempo me despe de
sonhos sem se apiedar

a vida segue a esmo
indômito barco fugaz
sou um cais de ausências
horizonte nenhum no olhar

contraceno com silêncios
gestos vazios, labirintos
a tristeza em lugar do amor
como mote ou como mar

18 de julho de 2010

por vezes


"Moinho em Zaandam", Claude Monet

por vezes sou moinho
indiferente à paisagem
asa que ao longe desvanece
e se escrevo silêncios é
por desertos contemplar

mas ainda ouço atento
as narrativas da brisa
sigo os passos das águas
olhos tenho para tudo
que for estelar

remanescem em mim
o ofício da palavra
o confabular dos sonhos
e o que o coração ainda
possa ensejar

25 de junho de 2010

da ausente melodia


"Natureza morta com guitarra", Pablo Picasso

na solidão é monocórdio e
sem arroubos o coração
e existir não mais do que a
récita de uma lira quebrada

mas se uma só palavra
transgride o silêncio
um verso me espreita
e eis a vida constelada

entrelinhas e sonhos
agora em minhas mãos
onde antes havia nada

19 de junho de 2010

das esquinas abissais


"Praia e falésias em Pourville, efeito da manhã", Claude Monet

endereço palavras num
oceano sem saída
sou só um barco ausente
que sempre dista do cais

âncora lançada no ar
minha dor é decassílaba
e a solidão me navega
por azuis e transversais

17 de junho de 2010

líria porto ao mar


"Retrato de mulher com chapéu", Pablo Picasso

Para Líria Porto, do blog Tanto Mar

quando se liquefala
num uni(co) verso
entre o voo e navegar
me faz crer que ver seja
não só com os olhos
mas com o coração

doida de pétala
single lar seu cais
assim me abissalva
com suas borboletras em
flores de aço, cenas
enquanto cotidiana
indaga ação