16 de setembro de 2009

por muitos quadrantes


"A praia de Sainte-Adresse", Claude Monet

se meus olhos velejam
por tanto desencanto
é porque sei meu coração
sem lugar para atracar

sobra-me tão pouco
quase nada a avistar
neste mar que percorro
sem nenhum alento

porém vez ou outra
arrisco um verso
e lanço a palavra minha
na órbita do vento

24 de agosto de 2009

Quixote entre moinhos desfeitos


"Dom Quixote", Salvador Dali

na tablatura deste
inverno que silencia
não encontro vestígios
de palavras minhas
se procuro sonhos
na paisagem

eu que regia os ventos
hoje indago esfinges
sobre onde estarão
meus moinhos
neste deserto que
tomou o meu olhar

29 de julho de 2009

à sombra das águas


"Figuras na praia", Pablo Picasso

lanço âncora em
lugar de palavras
meu périplo resumo
a uma lira de silêncios
por dedilhar

aportado na solidão
meu coração é
apenas um barco
sem resposta
fazendo apelos ao mar

15 de julho de 2009

de claves e de partituras


"Os três músicos", Pablo Picasso

teço canções em
compassos
de moinhos de vento
e assim apascento
a solidão que
carrego comigo

mas se arcana me
foge a palavra
a dor solfeja e
promessa nenhuma
me dá abrigo

19 de junho de 2009

nas vagas da poesia


"Barcos", Arcângelo Ianelli

tempestade sejam ou
ainda que calmaria
trago contidas as palavras
à solicitude dos ventos
respondendo com um não

à deriva vai meu coração
brancos versos meus navios
que a dor faz soçobrar
mais oceanos e desertos
silenciando meu olhar

19 de maio de 2009

do que vejo na paisagem


"Paisagem de outono com barcos", Vassili Kandinsky

assim percebo o outono
neste prólogo da estação
um palco para múltiplos
quintetos de aves
ou mesmo sem um único
gesto dos ventos
um cais de despedidas

nele aporto tristezas
eu que en passant entre
pétalas esquecidas

24 de março de 2009

num caminho que vai de Éolo a Chopin


"A noite estrelada", Vincent van Gogh

assim o pólen dos
sonhos
um contraponto ao
dia encerrado
fazendo da noite
lago constelado

eu que tudo contemplo
na solidão pereço
noturno é a música
do vento
ferindo-me num
arpejo lento

13 de janeiro de 2009

Cecília Meireles em mim


Cecília Meireles por Arpad Szenes

soçobram meus sonhos
assim como morrem
os meus navios
há muito não me reconheço do
lado de dentro do espelho
e sei que as minhas mãos
ambas se quebrariam
se o mar tocassem

por isso não me esqueço
nunca de você
quando vejo asas em
voos rimados
ou mesmo a lua dispersa
e prometo ficar atento
aos motivos da rosa
se descuidado o vento
a despetalar

pois você, Cecília
umedece meus olhos
há muito empedrados
ante este mundo
por reinventar

3 de janeiro de 2009

ainda que poente o sol


"Semeador com pôr do sol", Vincent van Gogh

perspectivas ausentes
o que o coração procura
é um ponto de fuga na
arquitetura da tarde
e aplacado o sol em fúria
sinos sem falsete trazem
a sagração dos pássaros
e uma simples conclusão

seja nos jardins do Éden
ou mesmo neste labirinto
esta vertigem de sonhos
celeuma de asas e palavras
que denominamos vida
nada mais é que um avarandado
à espera do amor por visitante