28 de abril de 2008

strings dance













"Adam's Cello", de Susanne Clark

da orquestra de cordas
esqueçam o rigor regente
quem spalla ou os que
o seguem também
ou o articular da mais
mozartiana melodia

atentem para o que
a pauta não previa
de cellos, violas, violinos
o gestual compassado
o ballet dos arcos em
incidental coreografia

26 de abril de 2008

Vincent réquiem







"Campo de trigo com corvos", de Vincent van Gogh

nimbos em borrão
contrapõem céu e terra
rugem azuis presságios
de tormenta
turbulento é o ouro
dos trigais

dilacera a tela
uma estrada rumo ao nada
cairão cromatismos em
abismos
girassóis e ciprestes
nunca mais

corvos fugidios
não esperam a tempestade
está por um fio a vida
da alma insana
cuja obra semeia
eternidade

Paul en Arlequin














"Paul como arlequim", de Pablo Picasso

collerette e punhos
de branco tule
geometrais losangos
em azul e amarelo
alternar
como arlequim
de chapéu bicorne
le petit Paul
pose faz na cadeira
de alto espaldar

24 de abril de 2008

sobre a não perenidade da paixão











"Vaso de flores na mesa", de Pablo Picasso




idiossincrasia da floração:
amores perfeitos não
duram para sempre

20 de abril de 2008

de ares, lugares


"Cabo de Antibes, vento Mistral", de Claude Monet
aponta o caminho
das asas
orquestra das ondas
a superfície
remodela paisagens
e na semeadura do pólen
faz o traslado
do que é fecundo


acessa os ermos
do mundo
tecendo sem ter fio
sendo vórtice ou
mero assovio
e de tudo que compraz
o vento
concede ainda Éolo
à flor o movimento


alguns dos sopros que
chegam agora em mim
seriam a alma do flautim?

19 de abril de 2008

luminescena









"Luar", de Paul Klee


vem a calhar
esta luna amarilla
que não passa em branco
nem a náufragos como eu
nem a olhos expectantes

em sertões seja
cidades ou nalgum cais
a beleza aporta
a noite aclara
como se fora dia

e no oceano sideral
a órbita llena faz
o coração alhear-se
do quanto silencia

13 de abril de 2008

o contraste que vem pela janela













"Natureza morta em frente à janela em Saint-Raphaël", de Pablo Picasso

eu diria uma
florboleta
tal o irisado das asas
que a pétalas
se assemelham

pois assim a vejo
nessa caleidoscópica
trajetória
que desbanca um dia
em branco e preto

e em meio à minha
sarabanda
ela voa minueto

Zéfiro, Cartola & afins


"O moinho de La Gallete", Vincent van Gogh

há dias em que
passa ao largo
qualquer alento
como que cessado
da vida o sopro
ou findo o giro
o instante do
catavento


dias há em que
a existência é moenda
a felicidade lenda
e a dor que atmosfere
o próprio ar
em movimento

11 de abril de 2008

onomelopeia













"Asilo e jardim", de Vincent van Gogh

um verdestrídulo
sem fim naquele jardim:
volta e meia cricrilardeia
falaz um griloquaz

vooleta











"Recanto do jardim em Montgeron", de Claude Monet

na florescência ela voa
em mero ínterim
ontem larva hoje assim
no éter, no azul
pólen propagando
de norte a sul

resvalando pétalas
no pós metamorfases
borboletrajando asas
amarelilases

De La Mancha


"Campo de tulipas na Holanda", Claude Monet


buscando dulcimeras
cavalgalopo em tresvazios
quixoteimo pela vida

ostento o gume
da palavra
que se me afigura
armadúbia e lança

mas mesmo surrado
e zombalido
avento ainda
meus moinhos

tarde alquímica


"Por do sol: campos de trigo próximos de Arles", Vincent van Gogh

transmuta o sol
em ouro
os campos de trigo
onde de ordinário
se obtém o pão

que se aprumem
então as bateias:
ondulam riquezas
se durante a tarde
a brisa vagueia

centemeyer









Croquis de Brasília, Palácio da Alvorada, de Oscar Niemeyer 

arcos, vãos
o concreto em duna
comuna, é dele
o traço
que inventa a
arquitecurva

pilar, Oscar é
a mestra viga
do que monumentaliza:
nele a beleza se
sustenta e bisa

9 de abril de 2008

na mesma cinematecla











"Vinha encarnada", de Vincent van Gogh

olhos de cineasta
pelos flancos da tarde
transformo em documentário
os roteiros do sol

desnecessários os diálogos
basta do ocaso um close-up
para o sucesso avant première
tal o mise-en-scène da luz

sobre os cemitérios de João Cabral


"Cemitério de los Angeles - Chile", Gonzalo Cárcamo

de João Cabral discordo
quando torna em tema
a última gleba de chão
onde arcabouços ósseos
inertes adormecem

pois que importam os túmulos
qual marmóreos calabouços
e suas sobrepostas estatuárias
ou simples e caiadas cruzes por
episódicas guirlandas adornadas?

quando muito me permito
para as covas esta alusão:
são portos para os mortos
onde em naufrágio terminante
a vida vai atracar

Vermessungstechniker


"Nu reclinado", Amedeo Modigliani

sua geografia assim a contemplo
com olhar cartográfico
num atlas dispondo
recônditos mapeados
relevos traduzidos
e sem das vestes o artifício
natural que sua pele revele
para o amor o feudo propício:
nada de altiplanos, escarpas
mas sim colinas, alvas dunas
vale, alfombra e ravina
onde tudo culmina